Residência Artística – Bruna Gonçalves

No post de hoje vamos apresentar o trabalho Bruna Gonçalves, que participou da nossa Residência Artística em 2018. A artista apresentou uma proposta que foi dividida em algumas etapas. Para iniciar sua aproximação com o espaço escolar, ela passou algumas semanas frequentando as aulas do 4º ano do Ensino Fundamental, para conhecer os estudantes com os quais trabalharia ao final do processo.

Ao mesmo tempo, ela já estava elaborando sua proposta de interferência no espaço escolar e na Galeria Professor Pável, que ocorreu por meio da exposição “Inflar”. Alguns dias antes da abertura da exposição, Bruna estabeleceu algumas provocações em pontos estratégicos da escola. Intitulados como “Espaços Frágeis”, esses lugares eram compostos por cadeiras, bancos, molduras completamente cobertos por papel alumínio. Uma fita zebrada desenhava um retângulo em volta deles, criando uma área diferenciada na visualidade do cotidiano escolar.



Na Galeria, exposição foi composta por um grande conjunto de origamis de papel laminado, assim como havia interferências de quadrados do mesmo papel colados no chão com fitas de sinalização zebradas. Segundo a artista, “o debate passa pela fragilidade do material que reconstruirá o espaço fisicamente e sonoramente. Quero investigar se o corpo e os movimentos daqueles que passam por ali, quase que diariamente, sofrem alterações. Como [os objetos] são tocados? De que forma a instalação modifica o olhar sobre a galeria? É possível, dentro do ambiente escolar, uma negociação da diferença do tempo dos indivíduos e da obra? Será que para além da destruição há outra possibilidade de relação?”



Como já esperávamos, muito rápido os balões começaram a sofrer a interferência do público. Os balões foram virando bolinhas de papel laminado. Durante o horário do recreio, os bolsistas do projeto começaram a atuar com as crianças, mostrando o que estava acontecendo e propondo que elas criassem alternativas para reconstruir a obra. Assim, perto de cada balão de papel laminado amassado, surgiu um balão de papel manteiga, feito por crianças de diferentes turmas no horário do recreio.



Na última etapa de seu trabalho na escola, a artista realizou uma oficina de dois dias com as crianças daquelas turmas em que esteve acompanhando algumas aulas. Inicialmente, ela propôs um exercício com objetos inspirados nos “Objetos Relacionais” de Lygia Clark. A artista que inspirou essa proposta criou uma série de objetos que estimulavam a sensibilidade, a imaginação, a fantasia. Bruna buscou esses mesmos princípios para promover estímulos criativos e com eles acessar a memória corporal de cada estudante. Ela partia do princípio de que o corpo tinha um papel importante em sua exposição. Segundo a artista, “ao reconhecê-lo e expandir a sua sensibilidade, a relação entre o corpo e o espaço seria afetada.” A partir dessa sensibilização, a proposta era sair do espaço sala de aula para experimentar, ou re-experimentar a instalação.



No segundo dia, as crianças foram convidadas a fazerem uma dobradura de grande formato, que compuseram uma das paredes da exposição e encerraram o ciclo da presença da artista na escola. Bruna acreditava acima de tudo “que a base da discussão fosse a negociação do corpo, espaço, tempo e sensibilidade da obra com indivíduo, a fim de proporcionar uma emancipação do sentir”.



Abaixo, disponibilizamos um texto da artista, escrito durante o processo de realização da exposição:

“Tenho uma história que conta de onde saiu a instalação, para isso você precisa estar com um pedacinho de papel laminado em mãos ou conseguir imaginá-lo. “Queria ver o vazio. Sentada no chão da sala, criei pequenos espaços virtuais. Um, dois, três, quatro… Não me apegava a eles, criava e os soltava no chão da sala. Queria ver o vazio. A sala não estava vazia. Eu sentada e os pequenos espaços virtuais jogados no chão. Nunca sabemos quando vamos nos surpreender. Ainda bem que não temos controle sobre tudo, se não essa emoção seria extinta. Os ventos andam por ai interferindo no estável, dando rumo ao que não tinha, estimulando o movimento. Eu queria ver o vazio, mas minha janela estava aberta. Eu sentada e os espaços virtuais no chão. [amasse bem devagar o papel físico ou virtual]” Ai pensei e se fosse 100, 200 até mesmo 300 balões (ou espaços virtuais)? Mas ai o tempo do mundo externo atropelou muita coisa e acabei engavetando o projeto por quase um ano. No semestre passado fui convidada pela Mariana Couto, bolsista do Arte em Trânsito para desenvolver um projeto que auxilia-se a escolar no diálogo com as linguagens contemporâneas e os alunos e de preferência propostas tridimensionais, no meio da conversa ela alertou “Só tem uma coisinha, não podemos garantir a integridade da obra até o final da exposição, inclusive seria bacana se conseguisse dialogar com a possível destruição.” Foi aí, a oportunidade perfeita pra construir esse espaço frágil e potente de estímulos. Daí em diante foi um mergulho no projeto, fiz várias oficinas que pudessem me ajudar na reflexão sobre memória e sensibilização do corpo, de estar presente no presente, comecei a observar das turmas, visitar a escola pra entender mais sobre a rotina pensar nas etapas do projeto. Tomou uma dimensão bem distinta da que imaginei, quando percebi havia uma equipe maravilhosa no João XXIII me auxiliando e andando juntinho comigo. Quanto ao nome… Sou péssima nisso, confesso que adiei ao máximo que pude. Não tenho uma justificativa, essa palavra apareceu e eu gostei, se apareceu não foi atoa, e se não foi atoa não precisa, ao meu ver, de uma justificativa poética e conceitual.”



Essa publicação faz parte da nossa série de postagens sobre a Residência Artística. Caso você ainda não tenha visto as anteriores, confira nos links a seguir:

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