SEU ARLINDO E BIÁ – MEMÓRIAS DO QUE SÃO, MEMÓRIAS DO QUE SOMOS.

O folclore são símbolos. Através dele as pessoas dizem e querem dizer. A mulher poteira que desenha flores no pote de barro que queima no forno do fundo do quintal sabe disso. Potes servem para guardar água, mas flores no pote servem para guardar símbolos. Servem para guardar a memória de quem fez, de quem bebe a água e de quem, vendo as flores, lembra de onde veio. E quem é. Por isso há potes com flores, Folias de Santos Reis e flores bordadas em saias de camponesas. (BRANDÃO, 1998, p.107)

Durante os meses de agosto e início de setembro, o Projeto Pontes Comunitárias teve o privilégio de divulgar uma série de publicações sobre o trabalho de Seu Arlindo e Biá, artesãos moradores de São José dos Lopes, distrito rural de Lima Duarte, Minas Gerais. Seu Arlindo e Biá nos contam sua própria história, e o fazem de diferentes maneiras: seja por meio de seus cestos, seus cantos ou suas falas. Quando produzem seus cestos, quando nos apresentam a maneira como retiram as fibras da bananeira, a forma como as trata, como as entrelaçam, nos contam assim sua história e também nos mostram o envolvimento que estabelecem com aquilo que criam. “Se eu pudesse ficava dia e noite trançando, é o meu prazer”, diz Seu Arlindo.

Ambos também perpetuam suas memórias quando durante a Semana Santa, ao som da matraca, executada por Seu Arlindo, e ao som da voz de Biá, com seu canto, passam de casa em casa, cantando para aqueles que já se foram, uma voz de conforto às famílias que perderam alguém. Cantos e cestos que guardam memórias, tradições, cultura popular. Como nos diz Brandão na epígrafe escolhida para este texto, são cestos e cantos que os fazem lembrar de onde vieram e de quem são.

Os convido a conhecer mais sobre eles[1], por meio da galeria de fotos, pelos vídeos produzidos, pelo texto, enfim, por meio de sua arte, de seu canto. Conhecer Seu Arlindo e Biá nos desafia a também nos conhecermos, pensarmos em nossas memórias, nossas tradições, nossas criações, muitas vezes veladas e quase silenciadas nestes tempos que tanto correm. Conhecer Seu Arlindo e Biá nos ensina que aquilo que fazemos, sejam cestos, potes, cantos, pode também trazer nossa história, nossa memória, aquilo que somos, assim como as flores bordadas em saias de camponesas.


[1] O catálogo produzido sobre o trabalho de Seu Arlindo e Biá, pode ser acessado através do link:  https://arteemtransito.com.br/site/pt_br/seu-arlindo-e-bia-projeto-linhas-de-minas/

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