Ao falar de paisagem, logo pensamos naquilo que vemos de nossas janelas. Mas a imagem que criamos a partir disso ou o conjunto de sons que se ouve em um determinado ambiente também podem nos ajudar a pensar sobre o assunto. Em 2019, nossa conversa com as crianças do 2o. ano do Ensino Fundamental sobre os diferentes tipos de paisagem que podem existir, começou a partir daquilo o que era visto/ouvido dentro do Colégio, para se expandir em diferentes possibilidades.
A exposição que aqui apresentamos, mostra os processos e alguns resultados desse diálogo. Iniciamos nosso percurso, captando as paisagens do João XXIII. Em Música as crianças fizeram um trabalho baseado no conceito de “Paisagem Sonora”, elaborado pelo educador e compositor canadense Murray Schafer. Inicialmente, por meio de uma atividade denominada “Passeios Auditivos”, se envolveram em um processo de escuta e registro, buscando perceber e descrever os sons existentes nos diversos ambientes do colégio, seu campo sonoro. A atividade buscou também refletir sobre a poluição sonora que nos envolve diariamente. Posteriormente, construíram instrumentos musicais com objetos do cotidiano, alguns retirados dos próprios ambientes visitados. A partir disso, reproduziram os sons coletados, organizando-os musicalmente em um arranjo da música “Peixinhos do mar”. Esse processo durou aproximadamente 8 semanas e envolveu os alunos em uma nova percepção sobre a ambiência sonora da escola.
Em Artes Visuais, elas escolheram seus locais favoritos no Colégio para fazerem um “selfeet”, ou selfie do pé. A proposta servia para cada um se pensar como parte da paisagem e aqui nos mostra uma diversidade visual de espaços percorridos pelas crianças no interior do Colégio.
Outro exercício feito foi o desenho em plásticos transparentes, apoiados no vidro da janela da sala dos professores. Ali as crianças desenharam o que viam pela janela. Mas, para além disso, as linhas indicam como elas se apropriaram da linda paisagem da cidade, que faz parte de nosso cotidiano.
Com esse material, articulamos mais uma proposta ao trabalho, trazendo um pouco daquilo o que foi desenvolvido pela professora Fernanda Moraes em setembro de 2019 no evento “Deslocamentos Poéticos”. Ela realizou uma oficina, na qual apresentou a proposta da artista Nerea Lekuona, que cola mapas em espaços casualmente descascados da parede. Nós seguimos essa ideia, mas no lugar dos mapas colados pela artista, criamos coletivamente uma paisagem imaginária da cidade, agrupando os desenhos feitos no plástico por cada criança. Os resultados desse exercício ainda podem ser vistos em alguns espaços da escola.
Por fim, no hall das salas de Artes Visuais apresentamos duas grandes pinturas elaboradas com guache e colagem sobre papel pardo. Nelas vemos uma paisagem totalmente imaginada e construída coletivamente pelas crianças.
Em todos esses trabalhos vemos a potência da articulação das ideias entre diferentes áreas de conhecimento artístico, assim como indica a beleza de uma aprendizagem estabelecida entre muito diálogo e colaboração.
Vamos percorrer o mundo das crianças estabelecido entre paisagens vistas, ouvidas e imaginadas?
* Texto originalmente escrito para a apresentação da exposição, aberta no dia 09/03/2020.