Paisagem nas Artes Visuais

Principais referências – Segunda  parte


Oi pessoal! Voltamos com mais alguns artistas para complementar a nossa lista.

A partir de tudo aquilo que vimos no último post, já percebemos que pensar a paisagem no campo das Artes Visuais, significa ir além da mera representação daquilo o que é visto. Nos acostumamos com as “Pinturas de Paisagem”, gênero artístico que se firmou no século XVII e que foi marcado por vistas grandiosas ou pelos registros de viagens de muitos artistas. Elas nos apresentam, por meio da subjetividade de cada artista, como somos minúsculos diante do mundo. Mas ao longo dos anos, vários deles e delas foram percebendo que suas criações eram filtradas pela forma como percebiam ou, até mesmo, alteravam a paisagem.


Você acha que a paisagem só mostra a vista de algum lugar?

Essa pergunta serve como uma provocação para abalar as certezas dos estudantes. Muitas vezes vemos como eles têm pouco contato com obras de arte contemporâneas. Então é importante levá-los à uma reflexão que vai além da ideia de representação. Confira algumas sugestões de artistas:


Agnes Denes (1931): Nascida em Budapeste (Hungria) em 1931, a artista foi criada na Suécia e educada nos Estados Unidos. Ela já participou de muitas exposições em galerias e museus em todo o mundo. Mas, “Campo de trigo – um confronto”, de 1982, é talvez o seu trabalho mais conhecido. Foi criado durante um período de quatro meses entre a primavera e o verão de 1982, quando Denes, com o apoio do fundo de arte pública, plantou um campo de trigo dourado em dois acres de aterro cheio de entulho perto da Wall Street e do World Trade Center na parte baixa de Manhattan. Esta obra acaba gerando uma imagem conflitante pelo fato do plano de fundo de seu campo de trigo ser composto por prédios e entulhos. Por outro lado, Susie Hodge, autora do livro que citamos na postagem anterior, ressalta que a artista queria nos lembrar que a paisagem pode alimentar várias pessoas. Quando o trigo cresceu, foi colhido e enviado para 28 diferentes países, para que fosse plantado e colhido nesses locais.

Agnes Denes, Campo de trigo, 1982. Fonte:
 https://journals.openedition.org/cidades/docannexe/image/411/img-3-small580.jpg



Christo (1937) e Jeanne-Claude (1937-2009): Ela nasceu em 13 de junho de 1937 no Marrocos e era descendente de uma família de oficiais franceses. Ele nasceu no mesmo dia e ano na Bulgária. Ambos viviam juntos há 51 anos e ficaram conhecidos por instalações monumentais. Isso porque a proposta deles é “embrulhar” com tecido elementos da paisagem, gerando imagens desconcertantes. Susie Hodge, chama atenção para o fato de que arte sobre paisagem nem sempre precisa acontecer no formato bidimensional. Um exemplo disso são as “Ilhas Cercadas”, realizadas entre 1980-83. Além de ser ricamente visual, pelas cores e texturas, a obra carrega em si a estranheza de chamar a atenção para o desenho de elementos da paisagem que fazem parte do cotidiano das pessoa. A proposta traz a ideia de que indivíduos são capazes de empenhar grandes esforços para realizar um trabalho tão monumental, de difícil logística, mas de forte impacto visual. De fato, é mais do que ver a paisagem, mas interferir diretamente nela, para que outras pessoas a percebam de maneira mais detalhada e reflexiva.

Christo e Jeanne-Claude, Ilhas cercadas, 1980-83. Fonte: 
https://blombo.com/blog/wp-content/uploads/2018/12/destaque-christo.jpg



Richard Long (1945): Esse artista britânico ampliou a ideia de escultura, agregando a ela a uma proposta performática, ao mesmo tempo em que trabalhou com os princípios da arte conceitual. Seu trabalho normalmente é feito de terra, rocha, lama, pedra e outros materiais diretamente retirados da natureza. Em “Deserto sonhado”, realizada em 2017, ele usa pedra de Norfolk e ardósia da Cornualha para criar um trabalho inspirado em bússolas. Construído com elemento deslocados natureza, seu efeito é belo e estranho ao mesmo tempo: como uma forma geométrica perfeita, claramente não natural, surgiu naquele jardim? A obra nos causa o confronto imediato entre a paisagem que a cerca e a forma que com sua presença altera a nossa percepção sobre aquilo o que vemos.

Richard Long, Deserto sonhado, 2017. Fonte: https://i.pinimg.com/originals/e1/ae/ef/e1aeef28e986aa73c951a3423715e520.jpg



Rachel Whiteread (1963): Nascida em Londres, Whiteread se inspira na forma das edificações e nos objetos da vida cotidiana. Uma das maiores características de seus trabalhos é a utilização dos espaços negativos das construções. Um excelente exemplo é a obra “Galpão para galinhas” de 2017. Trata-se de um pequeno galinheiro, originalmente construído em madeira. Seu interior foi inicialmente esvaziado e posteriormente vedado para receber alguns metros cúbicos de concreto. O suficiente para preencher todo o seu interior. Por último são retiradas as paredes e o teto, restando somente o espaço “vazio” agora materializado. Nós não vemos todo esse processo aqui descrito. Vemos apenas a escultura de concreto posicionada no seu local de origem ou reposicionada em outros locais, gerando dissonância entre a escultura e o seu entorno, como é o caso dessa obra específica.

Rachel Witheread, Galpão para galinhas, 2017. Fonte: https://si.wsj.net/public/resources/images/BN-VC392_WHITER_GR_20170913144430.jpg


Ficou difícil entender essa obra pela descrição que fizemos acima? Tente essa explicação: “Sabe quando a gente vai na praia, pega um balde, enche ele todinho de areia e vira tirando o balde? O que fica não é o espaço “vazio” do balde, só que “cheio” de areia? Então. É isso que essa artista faz.”

Quem disse isso, não foi nenhuma professora ou crítico de arte. Muito menos um artista. Foi uma criança de 8 anos de idade durante a aula na qual apresentamos essa obra. Ela, com seu simples (mas nem de longe simplório) exemplo, conseguiu explicar a obra para as outras crianças muito melhor do que qualquer outra pessoa. Por isso, é fundamental, antes de qualquer coisa, mostrar as imagens e deixar os estudantes falarem, pois a partir disso é possível enriquecer muito mais o processo de construções de conceitos da aula.


Calma que tem bônus!!

Em nossas aulas nós não usamos esses artistas, mas não poderíamos terminar essa sequência de posts sem citá-los:


Willian Turner (1775 – 1851): Importante pintor inglês, responsável pela reflexão aprofundada dos estudos sobre cor e luz em suas obras. Isso interferiu tão profundamente em sua construção pictórica, que ele se desvinculou quase por completo do compromisso de representar os elementos da paisagem de forma claramente visível. Suas imagens buscavam captar movimentos que nem sempre são totalmente percebidos pelas pessoas. Com isso, retratava o poder da natureza manifestado pelas tempestades e catástrofes, temas frequentes em suas pinturas. Recomendamos o filme “Sr. Turner” como uma excelente fonte para pensar sobre a vida e a obra do pintor.


Rosa Bonheur (1822 – 1899): Pintora realista francesa que focava na paisagem e nos animais inseridos nela. Na maior parte do tempo, seu real interesse era pela retratação de cenas do cotidiano e do trabalho estabelecido nos campos abertos. Uma de suas obras mais conhecidas tem justamente essa temática “Bois no Arado de Nivernais”, de 1849. Nela, a artista apresenta uma visão do cotidiano talvez inspirada em escritos de Georges Sand, mas, sobretudo, comprometida com o grande envolvimento dos trabalhadores com a terra e seu preparo.


Marcelo Silveira (1962): No material do educativo da 29a. Bienal de São Paulo, vemos que o artista pernambucano dedicou quase 20 anos à escultura. Nos anos 2000 ele voltaria ao plano bidimensional, sendo que, uma de suas obras nessa técnica, foi exposta naquela Bienal. Segundo o Material Educativo, “contrapondo-se às tão difundidas técnicas digitais, o artista prefere trabalhar manualmente e assim se aproxima do artesanato. Recorta páginas de revistas, todas em preto e branco, e recombina os pedaços com cola, formando imagens novas. Para tanto, ele prefere rasgar a recortar com tesoura, o que deixa aparentes os contornos brancos irregulares. Os lugares que ele cria com suas colagens, não revelam de onde os fragmentos que compõem a imagem foram retirados. São lugares enigmáticos. Espaços sem contornos, sem identidade, formados por pedaços de papel de paisagens naturais e texturas fotográficas diversas”.


Rosângela Rennó (1962): a artista mineira fez em 2016 uma bela proposta à moradores de comunidades do Rio de Janeiro: fotografar e pesquisar sobre o local onde viviam. A ideia se desdobrou em uma exposição chamada “Rio Utópico”, na qual a Rennó organiza um extenso mapeamento de imagens fotográficas.


Algumas referências:

Agnes Denes (website): http://www.agnesdenesstudio.com/

GIGANTISMO EFÊMERO | A arte de Jeanne-Claude e Christo (vídeo): https://www.youtube.com/watch?v=mxpKsvyCN10

Richard Long (website): http://www.richardlong.org/

Rachel Whiteread (website/ Inglês): https://gagosian.com/artists/rachel-whiteread/

Site da 29a. Bienal de São Paulo (O material do educativo pode ser baixado gratuitamente): http://www.bienal.org.br/publicacoes#e:29bsp

Marcelo Silveira (website): http://marcelosilveira.art.br/

Uma outra Paisagem do Rio de Janeiro em “Rio Utópico” (website): https://www.premiopipa.com/2017/12/uma-outra-paisagem-do-rio-de-janeiro-em-rio-utopico/



Caso você ainda não tenha lido a primeira parte desse material, é só entrar em: https://arteemtransito.com.br/site/pt_br/2020/04/paisagem-nas-artes-visuais/

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