Desde muito novo Zibica se aventura a transformar o movimento do fole da sanfona em belas melodias. Sua maior inspiração foi seu pai, com quem aprendeu suas primeiras músicas. Da família, ele, os irmãos, o pai e os tios se enveredaram pela música. Zibica diz que se admirava muito ao ver seu pai inventando e tocando canções, mas que apenas ver não era suficiente para aprender a tocar. Foi colocando a mão na massa, “pelejando” entre uma música e outra, que ele dominou a sanfona.

Após uma vida inteira carregando-a em seus braços, Zibica passeia os dedos com maestria por entre os botões da sanfona. Se em algum momento houveram dificuldades entre ele e o instrumento, elas ficaram lá na infância: hoje ele consegue pegar músicas de ouvido e afinar sozinho a própria sanfona. “O sol e a lua mudam a afinação da sanfona. O calor do ar faz o som ficar diferente no instrumento. A cada temperatura, a sanfona tem uma voz diferente”, relata, revelando a intimidade que possui com as peças.

Em sua fala, Zibica demonstra ter um carinho muito grande por seus instrumentos. Ele conta orgulhoso das duas sanfonas que possui: uma que era de seu pai, feita há mais de 70 anos, e outra que comprou em uma feira de Juiz de Fora, construída, segundo ele, há mais de 200 anos. Sem dúvidas, é por todo cuidado e esmero que Zibica tem com as sanfonas que elas continuam funcionando depois de tanto tempo.

Passou a vida se dividindo entre os dias de trabalho na roça e as noites de música e festa. Tocava por horas seguidas, varando a madrugada, e no outro dia acordava cedinho para ir para a roça. Zibica rodava toda a Juiz de Fora e as cidades vizinhas com sua sanfona. “Eu tocava pra tudo os lado, povo chamava pra tudo os lado pra mim tocar.” Com Zibica não tinha mal tempo, “precisava tocar, nós ia por aí!”.

Zibica conta envaidecido as proezas de sua vida de sanfoneiro. Ele tocou em várias bandas e chegou até mesmo formar uma dupla de forró chamada “Zé Miúdo e Zé Pequeno”. Teve música sua tocada em uma rádio de Juiz de Fora e ganhou vários concursos, cujas premiações eram “um salaminho, duas caixas de cerveja, 2 quilos de linguiça de porco e 2 litros de cachaça”, ele relata, orgulhoso.

Hoje, aos 74 anos, Zibica já não consegue mais manter o mesmo ritmo de sua juventude. Mas mesmo assim não deixa sua sanfona de lado. “A minha sanfona eu não posso ficar sem ela não. Quando eu fico sozinho com Deus, a sanfona aqui, eu não esquento nem a cabeça!”.


Fotos por: Ana Laura Pompe