Nós registramos o mundo a todo instante, ainda que sem perceber. Para nos localizarmos nos espaços, capturamos impressões sobre o nosso entorno, guardando-as no corpo e na cabeça.
Assim como também imprimimos nossas percepções no mundo a cada ação, num movimento interno-externo-interno e vice-versa.
Respirar, andar, escrever, comer.
Tudo isso é vestígio da nossa presença. Nossas movimentações marcam o mundo e este também nos marca. Em Abrigo (1996), a artista Brígida Baltar escava a própria silhueta na parede de sua casa, tornando possível a ocupação do espaço criado.
Como desdobramento dessa primeira ação, a artista carioca utiliza os tijolos que foram retirados da tal parede em outras obras – seja em esculturas ou em desenhos feitos com o pó dos tijolos. Em 2018, Brígida Baltar apresenta a obra Chão, na qual utiliza o pó coletado ainda na década de 90 e o conforma novamente no aspecto de pequenos tijolos moldados.
Por meio deste exercício experimental a artista nos mostra que o meio pode ser transformado em material e, neste caso específico, torna-se portátil, criando rastros que se expandem e perduram no tempo. Ao utilizar o espaço da casa como substância para o trabalho, Brígida movimenta a materialidade que até então era fixa, fazendo com que novas camadas de sentido sejam aderidas àquele lugar, bem como nos faz questionar a respeito do próprio fazer artístico, pois, em uma movimentação quase arqueológica ela encontra o elemento para o trabalho.
Uma outra perspectiva de relação do corpo com o espaço é encontrada no livro de artista “Topometrias ou Livro das Intercorrências” (2013), de Laura Berbert. A artista se coloca no espaço da casa como quem analisa um relevo e utiliza um comum livro ata para efetuar o registro topográfico que propõe.
O livro é composto por fotografias analógicas da própria casa e reflexões escritas a lápis, sendo entendido como relevante os cantos até então pouco considerados, tais como por cima do chuveiro e por baixo da geladeira. Em um determinado ponto, Laura escreve: “E que o outro me conheça também por este relevo que não sou eu. Ser cada fresta, cada quina e abertura (…) Sentir em cada milímetro de pele e reboco. As portas como convite, pelo o que a casa é quando se abre”, mostrando um viés pelo qual a casa acaba por revelar sobre quem a habita, sendo feita mais uma observação minuciosa do que uma interferência efetiva.
Ambas as artistas, ainda que por métodos e abordagens diferentes, trazem à tona um tema similar, dando indícios de que transformar o meio em material de registro pode ser uma prática artística interessante para elaborarmos nossas impressões no mundo e com o mundo.
Nas obras de Brígida Baltar há a presença da artista elaborando novas formas para aquilo que era substancial da casa, e com isso se coloca no centro do processo. Já no livro de Laura Berbert o trabalho artístico se dá pelo registro e pela reflexão sobre a casa, a analisar o relevo escolhido e, através dos apontamentos do espaço, suscitar questões sobre si mesma.
Assim vamos vivendo e buscando significados naquilo que está ao nosso redor. Conhecendo a obra dessas duas artistas, seria possível pensarmos sobre o que o espaço que habitamos tem a nos dizer? E o contrário, o que temos a revelar para esse lugar?
Texto por Maria Rosa Lima
Fontes Utilizadas
Site da Galeria que representa Brígida Baltar: https://nararoesler.art/artists/34-brigida-baltar/
Porfólio da Brígida Baltar: https://nararoesler.art/usr/library/documents/main/34/portfolio-gnr-bri-gida-baltar-web.pdf
Site da Laura Bebert: https://cargocollective.com/lauraberbert/bio
Site que disponibiliza o livro citado: https://issuu.com/lauraberbert/docs/topometrias_lb
Links Importantes
Site da Galeria que representa Brígida Baltar: https://nararoesler.art/artists/34-brigida-baltar/
Site da Laura Bebert: https://cargocollective.com/lauraberbert/bio
Site que disponibiliza o livro citado: https://issuu.com/lauraberbert/docs/topometrias_lb
Instagram da Laura Berbert: https://www.instagram.com/lauraberbert