Cantos, danças e rodas de resistência: Coral Trovadores do Vale

O Coral Trovadores do Vale está localizado na cidade de Araçuaí – MG, mais especificamente no médio Jequitinhonha. O Vale do Jequitinhonha é amplamente conhecido pela riqueza de suas produções artísticas, seja no artesanato em barro, esculturas em madeira, música, dentre outras manifestações nascidas da cultura de seu povo.

O Trovadores do Vale é formado por mulheres e homens da própria comunidade, que são artesãs e artesãos, professoras, carpinteiros, motoristas, estudantes e donas de casa. Cantam e dançam um repertório composto por cantos de trabalho, como os cantos de canoeiros, tropeiros, boiadeiros e de machadeiros, além de cantigas, danças de roda e louvores religiosos, todos oriundos da vida do povo do Vale do Jequitinhonha.

Coral Trovadores do Vale. Foto: Pedro Dutra



A história do nascimento do Coral se remete a um Frei Holandês, que chegou ao Vale no final da década de 1960, conhecido como Frei Chico. Enquanto tomava banho na casa paroquial onde morava, Frei Chico ouvia a cozinheira, dona Filó, que era viúva de um canoeiro, cantar constantemente enquanto realizava seu trabalho.

Como se tratava de uma casa sem forro, Frei Chico a ouvia cantar e lhe dizia “bonito Filó!”, e ela lhe respondia: “Ah, ‘é’ umas bobagens”. Desse encontro e amizade nasceu o primeiro repertório do Coral Trovadores do Vale, fundado 1970 por Frei Chico em conjunto com as pessoas da comunidade.

A partir daí, Frei Chico e Lira Marques, artista do Vale, iniciaram uma das maiores pesquisas no Vale do Jequitinhonha, registrando cantos, danças, rezas, brincadeiras, que ainda permaneciam presentes na memória da comunidade. Com um antigo gravador, percorriam as casas de viúvas de canoeiro, machadeiros, pessoas que mantinham ainda na memória e em suas práticas todo esse repertório.

Frei Chico e Lira Marques. Foto: Pedro Dutra



Este ano o Coral completa 50 anos de existência e resistência, em plena atividade. Podemos dizer que o Coral Trovadores do Vale preserva por meio século um repertório que nasce da própria cultura e saberes produzidos pelo povo, do qual ele faz parte. Ademais, o Coral devolve a seu povo todo esse resultado musical, produz cultura. Dentre os versos de suas músicas, encontramos:

Palmatória quebra dedo
Chicote deixa vergão
Cassetete quebra costela
Mas não quebra opinião.



Coral Trovadores do Vale. Foto: Pedro Dutra



Parte da resistência presente no Coral está também ligada às diversas histórias de seus integrantes. São histórias que mostram como o coral, intitulado por todos como sendo uma família, contribui para um movimento de superações e reconhecimentos pessoais e coletivos.

Ao longo de seus 50 anos o Coral cresce, e junto crescem seus integrantes no uso de sua própria palavra, no saber dizer “não”, mas ao mesmo tempo no saber dar as mãos. Podemos dizer que o Coral há 50 anos produz processos educativos. Ele ensina a si mesmo, seus integrantes, ensina ao Vale do Jequitinhonha e ensina para além do Vale.

No Coral Trovadores do Vale encontramos convivência, solidariedade, participação democrática, superação de problemas diante da vida, manutenção da cultura, conscientização, resistência e enraizamento.

No vídeo abaixo, você poderá ouvir e conhecer um pouco mais o Coral Trovadores do Vale

2 comentários em “Cantos, danças e rodas de resistência: Coral Trovadores do Vale

  1. vera lucia Ferreira de Assis Gomes Responder

    Um dos trabalhos mais lindos que ja vi.

  2. Jederson Beck Responder

    Lindo, emocionante, que tive a honra de conhecer em novembro de 2019.

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