Mesa Comunicações Orais: Poéticas em Trânsito

MESA 1 – COMUNICAÇÕES ORAIS – 21 DE SETEMBRO


O ARTESÃO E A MÁSCARA: ESTUDO SOBRE A FEITURA DE MÁSCARAS DE PALHAÇOS DE FOLIAS

AUTORES: Carolina Rodrigues da Silva e Ricardo Gomes Lima

RESUMO:

O objetivo central da pesquisa é investigar o processo criativo de feitura de máscaras de folias de reis, o modo como os artistas adquirem e lidam com as matérias-primas, os aspectos simbólicos e culturais contidos nesses objetos. Interessa-nos também investigar a hipótese da existência de uma rede de relacionamentos oriunda desse fazer, que articula artesãos, palhaços, e foliões e em que a máscara é elemento central, conectando os laços desse sistema.


DESLOCAMENTO COMO CONSTRUÇÃO DE AFETOS

AUTOR: Odinaldo Costa

RESUMO:

O texto propõe uma articulação entre a etnografia e a produção artística no intuito de elaborar um percurso metodológico que aborde aspectos fundamentais de uma pesquisa em artes. O objeto de estudo aqui apresentado trata-se de produções poéticas e mais especificamente o corpo do artista proponente, que se mostra como uma questão central no desenvolvimento da pesquisa ainda em processo. Esse corpo é pensado como um território em deslocamento, logo a viagem é um instrumento metodológico que encaminha o encontro do corpo do artista com outrem e também com lugares geográficos desconhecidos. Através de uma flanêrie urbana o corpo entra em contato com outros corpos, como também interfere nas paisagens que se apresentam durante os deslocamentos. Os referencias acerca de autoetnografia, tanto quanto sobre viagem e paisagem são trazidos em diálogo para que se possa traçar um percurso que se delimita junto a produção artística que está sendo desenvolvida. Algumas questões como: é possível realizar uma etnografia do próprio pesquisador? De que maneira articular uma proposta metodológica que posso assumir o corpo do pesquisar como foco na pesquisa? Algumas possibilidades são apontadas e colocadas em evidência ao longo do texto. A dificuldade em elaborar uma reflexão com tal direcionamento é evidente, mas diante da possibilidade de construção de paisagens íntimas algumas resoluções ficam cada vez mais claras.


A PAISAGEM URBANA CARIOCA, UMA QUESTÃO DE PERSPECTIVA

AUTORA: Aline Viana Tomé

RESUMO:

No presente trabalho buscaremos localizar espacialmente as pinturas de paisagem realizadas por Eliseu Visconti (1866-1944) e de seus contemporâneos, referentes ao Rio de Janeiro, no entre séculos XIX/XX. No período em questão a urbe passava pro inúmeras transformações, sejam elas de cunho político, artístico ou urbanístico. Dessa forma buscaremos refletir sobre quais são as regiões de interesse desses artistas e o motivo de tal escolha. Motivados por questões como: quais eram as regiões pintadas? O que essas regiões representavam para o cenário da urbe quando as obras foram executadas? O que foi representado?; visamos entender o debate travado pelos pintores que representaram as paisagens da capital no período em questão. Primeiramente será traçado um mapa apenas com as obras de Visconti, o que nos permitirá entender um pouco mais acerca dos interesses do pintor. Num segundo momento será elaborado outro mapa apontando a produção dos demais pintores nas localidades cariocas, o que permitirá um fértil diálogo entre as aproximações e distanciamentos com relação ao trabalho de Eliseu Visconti.


UM JARDIM NA FLORESTA

AUTORA: Cláudia B. V. Tavares

RESUMO:

A comunicação oral proposta se refere à pesquisa para doutorado derivada da proposta artística Um Jardim na Floresta. O trabalho realizado propõe uma ação seguida por um deslocamento: captar e engarrafar água proveniente da umidade do ambiente do meu ateliê e levá-la ao sertão de Pernambuco para o cultivo de um jardim. Essa ação envolve água, afeto, deslocamento e construção. Meu antigo ateliê fica situado em Laranjeiras, no Rio de Janeiro. Localizado como porão de uma casa, tem uma portaamarela que dá diretamente na rua. A umidade domina o ambiente. Floresta é o nome de uma localidade no semi-árido pernambucano. Região sujeita a severas secas, a última estiagem durou três anos. A paisagem natural áspera e sem cor é de uma amplitude a perder de vista e se assemelha ao imaginário comum quando se fala de sertão: mandacarus, bodes à solta, gado magro tentando pastar o que ainda sobrevive na seca. Distrito de Parnamirim, reúne uma população em torno de 90 famílias. A partir dos vários gestos pertencentes ao trabalho surgem muitas questões que serão desenvolvidas durante a elaboração da tese. Para essa comunicação a questão abordada será a de discutir o conceito de “ateliê-mina”, que propõe um deslocamento de margem da obra de arte para fonte do trabalho de arte. A ideia de ateliê se transforma ao longo da história da arte. É no Renascimento, com o surgimento da pintura de cavalete e da escultura que nasce a possibilidade de circulação da obra de arte.O ateliê passa a ser o local individualizado que acolhe todo o processo de criação da obra. É visto como o espaço do nascimento das obras que é deixado de lado quando a obra é finalizada para seguir seus caminhos possíveis dentro do sistema de arte. É nesse espaço do ateliê que a princípio está à margem dos trabalhos de arte que se encontra a minha mina que será explorada e deslocada de um lugar à outro. Pensar o ateliê como mina me parece ser o caminho a seguir, o transito, deslocamento, entre margem e centro.


INSTRUÇÕES NA ARTE CONTEMPORÂNEA: ALGUNS APONTAMENTOS

AUTORA: Letícia de Alencar Bertagna

RESUMO:

As instruções como uma questão central em trabalhos de arte surgem durante as experiências conceituais das décadas de 60 e 70 e foram especialmente exploradas e difundidas por artistas vinculados ao movimento Fluxus, embora apareçam na arte desde a proposição de Marcel Duchamp intitulada Unhappy Readymade, como aponta Bruce Altshusler. Desde então, os conceitualismos continuam provocando muitas ressonâncias nas produções de arte atuais, embora a multiplicidade de suas práticas atualizem e extrapolem as discussões suscitadas naquele primeiro momento, como podemos ver nas proposições de artistas como Paulo Bruscky e Cildo Meireles, para citar alguns exemplos brasileiros. Outro importante modelo desse tipo de atualização é o projeto Do it, do curador Hans Ulrich Obrist. Do it é uma exposição virtual de instruções. No site do projeto encontra-se o mapeamento de artistas, ensaios críticos e uma série de proposições que podem ser realizadas por qualquer pessoa. Posteriormente, os colaboradores podem enviar imagens e relatos de sua experiência. Assim, vemos que é da natureza da instrução em arte a possibilidade de ser executada por alguém que não pertence necessariamente ao campo artístico mas que pode tornar-se o co-criador da obra/proposta de modo efetivo. A instrução seria a obra aberta por excelência, no sentido atribuído por Umberto Eco, que a vê como algo em constante processo de elaboração. Nela, o espectador transformado em participante é convidado a seguir algumas orientações e a inventar caminhos para experimentar um estado poético mais do que construir uma obra concreta. Ou seja, na instrução está implicado mais o processo criativo do que a finalização de um objeto artístico específico. Este trabalho visa contextualizar o surgimento das instruções como linguagem artística e apontar alguns de seus desdobramentos na arte contemporânea.

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