Construções em lápis de Jennifer Maestre

Ao admirar a obra do biólogo Ernst Haeckel (1834-1919), Jennifer Maestre aprendeu que as possibilidades que a natureza oferece à arte não se esgotam. Pegando na forma do ouriço-do-mar, a artista sul-africana desenvolveu esculturas orgânicas feitas de lápis de cor e fio de costura.

Quando se olha de relance para uma escultura de Jennifer Maestre, parece que vemos um ser vivo marinho longe do seu habitat natural: o fundo escuro sobre o qual as suas peças são fotografadas ajuda à ilusão óptica. Coloridas e de aspecto orgânico, as peças de Maestre são, afinal, compostas por lápis de cor afiados e entrelaçados uns nos outros.

Na verdade, a ideia que inspirou o conceito deste projeto veio precisamente das profundezas oceânicas. Quando estava a terminar a faculdade, ocorreu-lhe a ideia de criar uma caixa com um compartimento secreto para uma pérola. A caixa teria a forma de um ouriço-do-mar feito de prata. O objeto suscitaria emoções contraditórias no espectador: seria belo, sem que houvesse o desejo de tocar-lhe.

Apesar de esta ideia nunca ter sido desenvolvida, Maestre centrou-se na ideia do ouriço e começou a utilizar pregos como espinhos, adicionando vários elementos aleatórios às suas esculturas, como fechos de correr. A dado momento apercebeu-se de que o prego não era o melhor material para trabalhar, já que Maestre queria criar formas mais complexas. Descobriu então os lápis afiados e desenvolveu técnicas de costura para uni-los um a um.

Hoje, Maestre utiliza centenas de lápis coloridos para produzir as suas esculturas. Corta-os em pedaços de 2,5cm e perfura cada um deles, transformando-os numa espécie de contas. Depois, afia-os e cose-os (usando a técnica peyote) para dar forma à estrutura, criando objetos cada vez mais complexos que se assemelham a ouriços-do-mar. Quando o trabalho está terminado, as suas peças chegam a valer €6000.

Para a artista, os espinhos do ouriço são perigosos e belos. Repudiam o contacto, mas a sua textura atrai o toque. A antítese do desejo e repulsão (o push e o pull) é transposta do universo marinho para a arte através do lápis que é, paradoxalmente, macio e afiado. Um material que é manufaturado em grandes quantidades e com pouca originalidade cria uma forma que nos lembra um ser vivo pertencente à natureza. O comum e anônimo reinventa-se e origina esculturas frágeis, mas temíveis e selvagens.

Jennifer Maestre nasceu em 1959 em Johannesburg, na África do Sul. Depois de viver em outros locais (Barcelona, Irão, Novo México), mudou-se para o Massachusetts, onde vive atualmente e onde se licenciou em artes, depois de ter estudado economia para agradar ao pai. A sua inspiração advém de animais, plantas, mitologia. Admira o biólogo Ernst Haeckel e o pintor francês Odilon Redon. Ao longo dos anos tem ganho vários prêmios, principalmente no estado onde vive – por exemplo, o prêmio Massachusetts Cultural Council em 2007.

Leia mais: http://obviousmag.org/archives/2012/04/construcoes_em_lapis_de_jennifer_maestre.html#ixzz1sQGS4lrl

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