Café servido numa cafeteira para masoquistas. Um martelo de vidro para trabalhos frágeis. Um guarda-chuva que protege outro guarda-chuva. Óculos destinados a casais que sofrem de um amor míope. Não se trata de uma distorção visual, tão pouco de uma alucinação. Desafie as leis da lógica com as obras do artista Jacques Carelman.
Desde muito cedo o ser humano se relacionou com os objectos. Nossa espécie tem acompanhado a descoberta da técnica – não só como mecanismo de defesa, como também de sobrevivência e arte. O sujeito e objecto fundem-se numa relação automática e intimista que funde o lado racional e emocional – até que algo de inesperado se encontra nos objectos impossíveis de Carelman.
Jacques Carelman é um artista francês, contemporâneo e autodidacta na pintura, escultura, ilustração e design. Em 1969, criou e publicou um catálogo que ordena um conjunto de objectos impossíveis que renunciam a sua função principal. As suas peças ingénuas e criativas geram um humor que resulta da mistura da lógica com a subtileza do absurdo.
Há várias justificações para o entornar de um simples café: um desequilíbrio na chávena, uma distracção ou um dia de azar. Nem sempre é fácil compensar todas estas falhas com o factor da velocidade, mas estranho é pensar que seria por causa do design da cafeteira. Carelman é o responsável por conceber, pela primeira vez, uma cafeteira própria para masoquistas.
À Mesa, Eu e Você, estaremos muito mais próximos do que numa mesa tradicional. A sua forma foi estudada para permitir a proximidade com os convidados. Se tudo lhe parece estranho e a perda de sentido lhe causa tonturas, então sente-se numa cadeira espalmada no chão.
“A melhor defesa é o ataque” – palavras de Napoleão Bonaparte. Para proteger as suas mãos, Jacques Carelman apresenta, no seu catálogo, luvas espinhosas com cactos agressivos.
E em pleno horário laboral, para trabalhos delicados, utilize um martelo de vidro. Se há fechaduras inacessíveis com cuja abertura você sonha, então talvez considere adquirir a chave que abre uma porta cuja fechadura só é acessível de um lado.
Para amantes míopes, há óculos que permitem o espelho do olhar do outro sem se cansar, focalizando a sua imagem nítida, antes de chegar à retina. Também poderão usufruir de uma bicicleta para noivos e de uma partida de xadrez num tabuleiro em forma de globo, com outra dimensão.
Também há a torneira económica que permite poupar água e o guarda-chuva que é colocado por cima de qualquer guarda-chuva, impedindo-o de se molhar.
Os objectos do artista descuram qualquer funcionalidade: são deformados, chocantes, inúteis, absurdos, impossíveis, ilógicos e ocultos. Trata-se da materialidade de criações imaginárias e da fuga à ditadura do valor de uso dos objectos. O leitor só poderá interagir com o objecto se reconhecer a sua diferença, uma vez que o processo de atribuição de significado exige passar de um horizonte anónimo para se tornar o mundo de alguém. A obra de Jacques Carelman é uma critica à sociedade de consumo, ridicularizando a necessidade de comprar, consumir e, por fim, descartar. O autor faleceu em Março de 2012. conheça mais sobre as obras deste artista no site: http://impossibleobjects.com/
Retirado do site: http://obviousmag.org/archives/2012/05/a_loucura_dos_objectos_impossiveis.html